domingo, 26 de agosto de 2018

É mais importante um "não" que vem da alma do que um falso "sim" com pretextos

A idade avança, vamos quebrando tabus e colocando obstáculos no chão. Decidimos que não vamos mais remoer sentimentos mal resolvidos e nem jogar mais para conquistar alguém. Decidimos tirar o véu do nosso falso pudismo de sermos difíceis, de esperarmos pela melhor oportunidade, para sermos mais verdadeiros com nossas vontades.

Percebemos que falta menos tempo para fazermos cenas. Vamos amadurecendo, nos tornando adultos. Vamos nos tornando mais práticos em todos os sentidos, porque é mais importante um "não" do outro que vem da alma do que um falso "sim" com pretextos.

Chega daquelas pessoas que temos algum sentimento, mas que querem apenas abusar nos nossos gostares por elas. Chega de súplicas para ficarmos juntos. Chega de procuras sem retorno e de demonstrações sem interesse. Chega de mendigar, pois crescemos! Agora, a vida é a nossa meta mais importante e viver sem medidas é um bem necessário.

Se olharmos para trás, vamos morrer de vergonha de nós mesmos em muitas situações que nos expomos ao ridículo de suplicar sentimento do outro, porém foi bom, pois aprendemos que sentimento é a dois e quando é de verdade não implora. Guardamos histórias que nos cravou em dores, mas agora é indiferente, porque aprendemos a nos defender das garras de quem nasceu para abusar dos sentimentos dos outros. Me desculpe, mas verdades são doídas.

Não é hora mais de fazer doce com o que temos vontade, podemos fazer tudo, até mesmo se lambuzar. Vamos desacelerando se ele não está nem aí, pois um pouco de autopiedade é melhor do que chorar escondido de raiva, de vergonha por um fora deslavado ou um não frouxo. Seria tão sincero se as pessoas fossem mais diretas, sem "preposições" educadas para nos falar não, porque um "não" de verdade, é melhor do que um talvez que nos causa ansiedade e desapontamento.

Não é mais cabível jogos de azar no amor e gostar mal resolvido. Descobrimos que fomos feitos para vivermos e entregarmos sentimentos para alguém, porém apenas quando esses vêm da alma. Vamos deixando de remoer, de doer para viver e, se alguém não vier, vamos sentir, mas entenderemos mais sóbrios que é melhor sozinho do que um amor mal resolvido ou de fachada.

Deixei as apostas grandes e, se jogo hoje em dia, me custa muito pouco, porque cansei de gastar tempo e sentimento com quem não merece qualquer cuidado meu. Hoje, aposto na bondade que as pessoas carregam, na sinceridade mesmo que doa, nas mãos que afagam as minhas sem qualquer intenção, no beijo bom sem vontade de envolver ou com vontade de paixão, no abraço que abraça todo o meu corpo e me ama sem qualquer palavra. E para os amores mal resolvidos, o meu estranhamento e, quando eles aparecem, ainda não entendo, então, às vezes, finjo que não é comigo. Quanto aos gostares flashbacks, podem ser bons, mas não resolvem o presente se não tem tem a intenção de fazer feliz.

Sem jogos, sem amores mal resolvidos, sigamos, porque os meus quinze anos deixei para trás... Sou homem vivido, detesto recados, não sou meio termo, sou a vontade de me entregar! E você?

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Amei

Sabe, quando eu olho um casal de namorados que estão no seu primeiro namoro ou não necessariamente precisam ser namorados e os vejo muito apaixonados, eu fico pensando: "que pena eles terem se conhecido agora, poderia ter se conhecido um pouco mais na frente e maduros, todo esse amor, vai ser esmagado pela inexperiência, imaturidade e vontade de viver coisas novas". Isso talvez tenha acontecido com a gente. 

E eu penso porque eu te amei tanto que eu chegava a não gostar do que eu sentia. Eu sei que pode parecer bobo, mas eu fiz planos, alguns tão absurdos que eu nem te contava, guardava comigo, para dizer em um momento exato. 

No começo, quando você chegava, eu ia embora, não meu corpo, mas o meu eu normal, meu corpo estava ali, mas o que eu fazia, o que eu falava, era tudo diferente de quando você não estava. 

Então chegamos ao ponto em que você sabia quando eu estava com raiva até pela resposta que eu dava ao seu "bom dia" no whatsapp. 
E eu não sou aquela pessoa dos meus quinze anos que acredita em tudo que dizem. Às vezes eu não acredito nem em tudo que demonstram, que fazem e que eu vejo. Tem gente que faz tanta coisa e não sabe nem porque está fazendo e nos magoa, você sabe. 

No entanto, eu acreditei, eu me doei, fui de peito aberto, me deixei vulnerável, baixei a guarda, permiti você entrar, você me fez não sentir medo de estar ali, pela primeira vez, eu senti que era diferente. Mas que nada, mais tarde, o encanto mais uma vez quebrado, o quadro com nossa foto virou estilhaço, meu coração também. Eu sangrei pela alma, escorreu por toda a sala, hoje eu nem sei bem o que fomos. Mas eu te amei tanto que me pergunto como foi possível, e às vezes, quando não estou me policiando e penso em nós, ainda acho que amo. Só que finjo pra mim mesmo que não. É uma possível verdade, que escondo até de mim. 

domingo, 19 de agosto de 2018

Coragem

"Queria te dizer algumas coisas, mas não sei por onde começar. Não sei nem dizê-las para mim mesmo. Sabe quando você sente que persegue algo em vão? Sabe quando o cenário é só bonito nos primeiros segundos? Sabe quando no meio do caminho você se vê sempre sozinho? Sabe quando os dias vão correndo? Dias sempre iguais? A gente só quer, em momentos assim, ter o direito de ceder, de parar, talvez desistir. Mas quando é que realmente temos coragem para tudo isso?"

Em mim

Por motivos que nem sei quais são, por medo de me expor demais ou de me acharem ridículo. Guardei muito de mim entalado na garganta por muitos anos, até que decidi me libertar do cárcere da vergonha de ser eu, nem que seja em palavras. Escrevo para que minha alma possa aliviar de tantos choros engasgados que carrego nos meus sentimentos.

É, chega um tempo que se faz necessário dizer sem nenhuma decência ou educação o que nos faz tão descrentes e tão indignados. A pior coisa na vida é viver em meio a turbulências pessoais.

É muito difícil fingir no dia a dia que não aguento mais tanta desigualdade, tanta hipocrisia, tanta roubo, tanto luto, tanto sequestro, tanta discriminação e tanta diferença social. O mundo vai nos mostrando maldades absurdas, e os momentos tristes mais parecem cenas de novelas do que realidades e, o pior de tudo, é que estamos apenas assistindo e não estamos fazendo nada. Tenho medo de estar certo que as tristezas e as dificuldades dos outros sejam apenas detalhes, que tantas rezas e ladainhas não estão sendo ouvidas.

Eu tenho ficado cansado com tanta hipocrisia, com tantas besteiras juntas que as pessoas tem inventado. Não suporto mais discussões para nada, enquanto deveriam sugerir como viver melhor. Estou cansado da guerra dos sexos, dos anjos e das pobrezas de espírito. Como eu gostaria de ouvir opiniões fundamentadas no amor, ou em como ser melhor, ou em como ajudar o outro. Às vezes escuto tantas coisas que prefiro não ter opinião, sinto náusea por tantas afirmações bizarras e fundamentalismos desconexos. Por que ninguém não levanta a bandeira e defende o amor, os sentimentos bons?

Estou com preguiça de religiões que afirmam ser "as melhores", "as verdadeiras", enquanto poderiam admitir que ir a igreja não salva ninguém, mas que fazer o bem é o segredo para se chegar ao céu. Um Pai Nosso diário com cada palavra da oração vivida e comungada pode te salvar mais do que bater no peito.

Não aguento mais ir ao supermercado, ao açougue, a padaria e medir cada centavo. Muitas vezes, ninguém percebe que eu conto o dinheiro que foi perdendo valor para a inflação. Ninguém percebe que não uso mais os mesmos produtos de antes e que não compro mais roupas a cada mudança de estação. Ninguém vê, mas meu bolso sente.

É muito difícil levantar todos os dias e encarar a vida, principalmente, quando queremos mudanças que não dependem de nós, quando o dia insiste em ficar cinza e desejamos apenas uma pitada de cor. Como é difícil conviver todos os dias com as indiferenças, insensatezes e quando não há motivos para acreditar. Como é difícil fingir quando arrancam de nós as esperanças e as crenças.

Ando indignado com a troca de favores, com o jeitinho para tudo, com as caras feias das pessoas, com as más vontades e com a falta de sorrisos. Estou decepcionado pela falta de cumprimentos verdadeiros e de vizinhos que não me perguntam mais se estou bem. Sinto falta de tantas coisas...

Que saudade de quando tudo era menos interesseiro e mais simples, quando um olhar expressava  amizade, quando as pessoas tinham menos pressa e mais zelo com o outro.

O tempo está indo, guardei todas as memórias boas nos meus segredos e as saudades na caixinha surpresa da vida. Não sou negativo e não sou otimista, estou a espera de um milagre. Sei que nada vai cair do céu se eu não me mover, mas estou apostando na bondade e no bem que nunca estão fora de moda.

Estou menos bonzinho, menos paciente e mais cético. Talvez esteja me faltando fé para acreditar que um dia, nem que seja daqui poucas décadas tudo possa ser menos fingido, menos sacrificado e mais feliz. Esta vida foi feita para a simplicidade de viver, que nos dão momentos de alegrias, mas estamos nos perdendo em tantos modelos para sobreviver, em teorias absurdas, em acreditares impostos e seduções mentirosas. Tenho medo que daqui a pouco vamos ser tudo que inventam e deixar de viver verdadeiramente.

Realmente, ser gente é para quem se atreve a quebrar as regras, que neutraliza as opiniões alheias porque acredita em si mesmo e confronta com os discursos prontos dos outros, porque essas ideologias precisam de críticas pessoais também.

Decidi ser mais eu, mesmo que errado, alienado e do contra, mas não serei conivente com as pessoas e suas políticas de bem viver, porque cada pessoa é única e livre. Antes errar para acertar, porque assim vamos nos conhecendo de verdade. E, a cada dia, o amanhecer nos acorda com a missão de viver bem e inventar histórias.

sábado, 18 de agosto de 2018

Trocando o look

Abri minhas gavetas. O que estava escondido entre calças e camisetas não está mais. Tirei tudo dos bolsos, do meio das meias e das cuecas, mostrei o meu melhor e pior entre traças e naftalinas. Abri o armário para nunca mais fechar.

Aprendi que segredos não podem ser escondidos entre golas e botões. Por mais bem passada que esteja uma peça, o amassado estará sempre exposto.

Tirei dos cabides os meus medos e os doei a quem precisava. Roupa velha só ocupa espaço, medo também.

Remendei os erros dos melhores looks. Mudei o estilo por não caber na minha ideologia e meu modo de ver o mundo. Não tento usar botões que não se encaixam em quem eu sou. Não visto peças que ficam largas no meu infinito particular.

Aprendi a apreciar a moda do ser, não a que criam, mas a que desenhei para mim. Moda você segue, estilo você cria, personalidade você tem. Deixei de seguir as tendências para criar as minhas. Está na moda ser igual, estereotipado e fechado. Mas é mais estiloso ser o que se é.

As gavetas estão abertas. Vazias de autopreconceito e cheias de verdade. E tomara que nenhuma dessas roupas caiba mais. Eu fico muito mais bonito sem receios. O meu melhor look é estar nu.

CARTA PARA QUEM EU NÃO ESPERAVA CHEGAR

Eu não lembro de ter procurado alguém para ser o amor da minha vida, de ter saído durante a noite numa balada e conversado com pessoas para ver quem cabia na minha caixinha. Nunca perguntei se ali tinha alguém que curtisse um funk, mas que soubesse apreciar MPB. Que fizesse selfies sem noção e sem necessidade, mas que apreciasse uma boa fotografia. Se gostavam de bife de fígado, arroz com uva passas ou molho branco. 
Sim, já criei cenas antes de dormir, já imaginei milhões de coisas lindas com alguém, mas esse alguém não tinha rosto, forma, voz, não tinha um jeito terrível de me irritar e não tinha um sorriso e um olhar desconcertante. 
Você não disse: oi, eu cheguei e vou desarrumar sua vida, roubar algumas noites de sono, te fazer enlouquecer de raiva, te fazer rir com uma mensagem qualquer e te chatear minutos depois. Vou te fazer se sentir especial, fazer você criar expectativas, mesmo você dizendo a si mesma todos os dias que não pode fazer isso. Vou te fazer se olhar e se desconhecer por que o que vou te fazer sentir, embora já tenha sentido por alguém, dessa vez será um pouco mais complexo. 
Na verdade, você não disse nada. Suponhamos agora que minha vida seja uma casa. Você chegou, bateu na porta sutilmente, eu abri, pedi para você entrar e lembro, você ainda assustado sentou-se na cama. Poucas palavras sobre nós, então falávamos sobre a cidade e as pessoas. Você começou a mexer nas fotografias, colocou alguma música para tocar na TV, abriu algumas gavetas. Você não deveria ter mexido nas gavetas, mas você mexeu e encontrou e leu coisas que não deveria, então soube de coisas que não deveria saber. 
Mal pude perceber, você já tinha andado a casa toda, tirado tudo do lugar, sujado todas as louças e roupas, deitou e rolou na minha cama. E só o que consigo pensar é: e quando for embora, quem vai arrumar tudo isso? Porque eu nunca fui bem em limpar, sempre joguei tudo para baixo do tapete. E você está aqui, dentro da minha casa, no meio da bagunça. Eu estou nesse momento olhando sua fotografia e esperando você ir embora sem sequer bater a porta. E a bagunça? Se eu quiser que arrume, como sempre.